Nine
Nine
EUA, 2009
Eu não diria que Nine é um filme chato. Aliás, talvez seja a última coisa que ele seja. Mas não existem só "chato" e "bom" para se designar um filme, então temos que procurar um outro adjetivo porque, definitivamente, nenhum dos dois se aplica. Vamos por partes, para facilitar um pouco a vida.
Nine não tem absolutamente nada de novo. Isso já pesa muito como um contra. O personagem principal, Guido Contini é de fato um picareta cativante. Mas é exatamente igual a todos os picaretas cativantes de que o cinema já se ocupou: inteligente, desconfortável com a badalação da própria vida, fumante, ansioso, mulherengo e dependente de um tipo de assistente (normalmente mulher e não surpreendentemente a Judi Dench) que serve de conexão entre o lunático apaixonante e o mundo real que espera muito dele. Guido é só mais um.
Os números musicais são visualmente bonitos - como todo o filme, sejamos justos. Gostei de figurino, maquiagem, fotografia, achei tudo muito bem acabado e tudo muito grandioso e não barango (e com uma vibe bem Chicago... originalidade not, novamente). Mas o grande problema desses números estão exatamente onde seria mais inaceitável estar: nas músicas! Não me incomoda, pessoalmente, o fato de as músicas virem segregadas da cena, ou seja, o personagem estar em um lugar e aparecer todo serelepe e cantante em outro. Em Nine, as canções como expressão interior até me agradaram. Os ritmos, apesar de nada originais, são até gostosos mas as letras... As letras são simplesmente terríveis. Bobas, rasas, nada melodiosas. Você não sai do cinema com vontade de baixar a trilha. E se tirar o brilho das cenas que elas embalam, ficaria insuportável sequer ouvi-las. Quer dizer, complicado se afeiçoar a um musical de músicas ruins.
Mas Nine tem seus trunfos. Talvez o elenco feminino mais fabuloso que já foi reunido para um mesmo filme. Todas elas fadadas a interpretar um tipo bem clichê, mas de novo aqui, é preciso ir por partes.
Já abro dizendo que encarei a presença de Fergie com muito ressabio e me surpreendi. Nada foi exigido dela, só que cantasse e fosse sensual - e é assim que ela ganha a vida - mas a personagem dela, uma personagem super pequena, foi o tipo feito da forma mais original e seu número musical é o mais agradável. Talvez por ser o mais bonito e mais coreografado, ou seja, o que desvia mais a atenção para a ruindade musical da coisa toda. Kate Hudson, que o meu amigo Pedro Célio descreveu como "um sopro do pop americano em um filme com cara de cinema italiano" fez axatamente isso. Foi um escape pop que eu chamaria de desnecessário se não fosse a Kate Hudson (Ah, minha amada Penny Lane). Os minutos a mais que se passa sentado em frente à tela para ver a personagem - completamente inútil ao enredo - não fazem mal à ninguém.
A primeira vez que vi a Marion Cotillard foi em Peixe Grande, fazendo uma personagem pequena e absolutamente normal (era a nora do protagonista Edward Bloom) passível de ser soterrada pelas histórias maravilhosas. Mas ela consegue ser tão cativante e tão apaixonante que é uma das primeiras coisas que me lembro se penso nesse filme (Que amo!). Não vi Piaf mas gostei de reencontrá-la no (decepcionante) Inimigos Públicos. Agora, em Nine, ela brilha. Luisa Contini é uma personagem feita para que todos nós a amemos e Marion Cotillard se faz amar em trinta segundos. Mão e luva. Seu primeiro número musical, onde ela revela resignação ao amor poderia ter sido uma cena histórica. Não é, no entanto. A idéia da música (Pessoas que somos e deixamos de ser) é realmente muito boa. Mas só a idéia. E mais para frente, quando Marion reaparece cantando, se alguém ali sentiu a alma lavada à escovão, este alguém, definitivamente, não fui eu.
Penélope Cruz estava perfeita, de novo. Mais uma vez digna de Oscar e louros por sua beleza e talento que amadureceram (eu não gostava dela nem um pouquinho) mas se eu tivesse que dizer alguma coisa para ela neste momento seria: Cuidado! Carla, sua personagem, é uma válvula cômica de um humor deliciosamente inocente e quase simplista. O que fica ainda mais interessante em uma personagem extremamente sensual e bastante louca e inconsequente. Resumindo: Carla é Maria Elena, de Vick Cristina Barcelona. Mais um contra para Nine.
E não foi com surpresa que, em um filme onde a eterna diva Sophia Loren, linda, elegante e superior como sempre (interpretando praticamente uma deusa, e é desse tipo de clichê que estou falando) o grande destaque tenha sido, na minha opinião, para Nicole Kidman.
A personagem de Nicole aparece pouco, é mais uma presença do que está presente. Mais um fim do que um meio. Claudia Jenssen é a musa do Maestro Contini e protagoniza a melhor cena do filme. Aliás, a única que realmente me deixou encantada. E não teve botox, não teve idade, não teve nada que impedice Nicole de ser a mulher mais linda do mundo mostrando sua qualidade como atriz que já estrelou o melhor musical da história (Moulin Rouge é perfeito, ok). Não teve letra ruim, não teve falta de confetes (o número musical é o mais sóbrio de todos) que a impedice ser estonteante. Em uma constelação de promessas, de modismos, e até de juventude, Nicole foi a estrela mais brilhante.
Entretida no cinema, teria dito assim que terminou: É melhor que Chicago... mas aí veio o final. Sabe quando você acha que o filme acabou e descobre que tem mais? Se tivesse acabado quando eu achei que acabaria, estaria tudo bem. Mas aí vieram uns 15 minutos a mais e aí fica difícil ser sincero dizendo que gostou de Nine. O final simplesmente me ofendeu. Nunca vi uma coisa mais desnecessária, foi como explicar uma piada. Uma pena. A ideia é até boa (meio machista, mas o filme é italiano demais para não o ser) mas boa. Só que a forma que foi desenvolvida menospreza a inteligência de quem já estava ali dedicando seu tempo ao show.
Escrevi feito uma torneira porque não sei falar de Nine nada conclusivo. Aliás, minto, posso ser absolutamente taxativa pra falar
Que o trailer é brilhante!