"não sou um intelectual, escrevo com o corpo."
Clarice Lispector

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Cor de Laranja


Leite Derramado
Chico Buarque, 2009

Ler Leite Derramado me deixou com a impressão ainda mais forte de que o objetivo de Chico Buarque com Estorvo e Benjamim era escrever Budapeste. Não que Leite Derramado não seja bom, é, mas passa muito longe da genialidade do anterior.
 
A história de um ancião centenário que, na cama do hospital, relembra da glória à decadência de sua família de nome empobrecida com a queda do café. Uma história interessante que retrata bem um movimento social que foi forte no Brasil e que ajudou a configurar a sociedade contemporânea. Mas para que as coisas não sejam tão simples assim, a história é narrada pela cabeça centenária do protagonista que já não é mais das mais lúcidas... Esses lapsos de memória e a confusão mental conferem ao livro uma quebra de linearidade que – se não vira poesia que nem Budapeste – pelo menos dá um ritmo diferenciado para o livro.
 
De um modo geral eu gostei. Gostei muito até. Achei, por exemplo, a sacada do título maravilhosa (pode me chamar de bobilda) e a narrativa do Chico tem muita poesia. Só senti falta mesmo da caneta de gênio, daquela coisa meio Borges...
 
Porque enredo é uma coisa que não costuma me surpreender. Dificilmente eu amo um livro que me surpreende por aí. Sei lá, quando são surpreendentes e inovadores, eu dou um sorrisinho e só. Meu negócio está na forma. Não precisa nem inovar (não sei de onde tiraram essa de que inovar é o que há, mas tudo bem) se for poesia escorrendo na prosa, já valeu. Agora, se inova no formato, no jeito de contar, aí pra mim tá lindo. Aí até livro que vira Best-seller e tem tudo para ganhar minha antipatia, me cativa (beijos, Menina que roubava livros). Chico vinha me pegando pela forma maluca. Em Leite Derramado, ficou só a poesia. Não tá ruim, mas depois de Budapeste, digamos que eu fiquei querendo mais...

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