"não sou um intelectual, escrevo com o corpo."
Clarice Lispector

domingo, 14 de março de 2010

Fórmula 1 - O Retorno

Ironia do destino: Shumacher fez da Fórmula 1 uma coisa chata e foi um dos principais fatores que me fez deixar o gosto pelas corridas de lado. Mas agora, tenho que confessar que o retorno do Alemão corrobora com todo o amor que estou voltando a sentir por este esporte.
Fui parando com o tempo de acompanhar e depois foi difícil voltar. Comecei a assistir só Mônaco, Brasil e mais alguma que passasse em um bom horário. Lewis Hamilton me animou a espiar um pouco, para checar qual é que era a do “jovem fenômeno”, mas ele não me agradou. E a ascensão do Felipe Massa não serviu de motivação porque sou tomada por uma enorme antipatia por ele. Ano passado, a Brawn me animava a sentar e ver uma corrida inteira, mas não  suficiente para assistir Japão ou Austrália, por exemplo.

Enfim, este ano tudo mudou. Shumacher de volta, Alonso na Ferrari, muitos candidatos ao título, muitos brasileiros na pista e o mais legal de tudo: NOVAS REGRAS! Estou apaixonada por isso que eles chamam de Nova Fórmula 1. Acho a idéia de não poder colocar combustível muito boa e as trocas de pneus vão modificar muito a lógica das paradas como conhecíamos até então. Fórmula 1 é um esporte de nerd, de bastidor, de engenheiro. O melhor carro ganha. Fato. Então eu acho muito válido adotar essas medidas que estimulem a competição “de braço”, que incentive os pilotos a se agredirem mais, a partirem para cima. A estratégia da equipe, parar na hora certa, um pit-stop bem feito, tudo isso é muito interessante e muito emocionante, concordo. Mas a ultrapassem é o gol da corrida! É ela que enche os olhos. E quanto mais incentivada, mais pegas dentro das pistas e mais divertido fica. Daí também a mudança nas pontuações. Demorei um pouco a formular uma opinião, mas eu até que gostei. Ainda defendo que a diferença do vencedor pro segundo lugar devia ser ainda maior, que a vitória tinha que ser super valorizada, mas como está já está bom.

Hoje, no Bahrein tivemos uma corrida muito interessante. E muito emocionante também. E, para mim, que sou SUPER FÃ do Fernando Alonso, uma corrida bem feliz. A largada já foi linda, e eu fiquei bem satisfeita de ver o Alonso agressivo, pegando a posição do Massa. Vettel é um ótimo piloto, conseguiu se sair relativamente bem do problema com o carro e eu torci muito para que ele conseguisse pódio. Também achei que a BLABLABLA de Hamilton podia ter ousado um pouquinho, acreditado antes e preparar um ataque do inglês ao Brasileiro. Acho que Massa nunca dá conta do Hamilton no mano a mano. Fato.

Quantos aos carros, tirando a Lotus conseguir que seus dois carros completassem a corrida (alegria!) acho que a superioridade da Ferrari não surpreendeu ninguém, mas acho que a RBR decepcionou um pouquinho. Sei lá, esperava mais da estréia da Red Bull em 2010 e tava colocando muito fé nos carros dela. Mas o 4º lugar de Vettel (por causa dos pesares) e o 8º do Webber deixaram muito a desejar.

Quem sai feliz é a Ferrari que abriu a temporada com dobradinha. A exemplo do que aconteceu com Button e  Brawn no ano passado, correr no vácuo do outro neste começo de campeonato ainda é a melhor pedida.  A equipe que entra mais “quente” e consegue se aproveitar deste momento em que as outras ainda estão “frias” costuma colher bons resultados.

No caso da disputa pessoal entre os pilotos de vermelho, gostaria de expressar aqui minha indignação com a Rede Globo. Palhaçada. Para a Ferrari, o importante é vencer o Construtores e emplacar um de seus pilotos campeão. Não importa qual neste caso. Claro que vai acontecer de, mais pra frente, ela começar a beneficiar um deles, é da política da equipe, mas o nome de quem vai ser o beneficiado está começando a ser escrito agora. Este ano eu acredito, de verdade, que não havia favoritismo e Felipe e Alonso começaram em pé de igualdade.  Alonso se mostrou superior. Deu pra ver isso claramente na largada. (Massa comemorou demais largar na frente, alguém devia ter contado pra ele que treino é treino e jogo é jogo). Fernando Alonso deu um importante passo rumo ao posto de primeiro piloto (que existe, né, gente? Vamos ser realistas) vencendo a primeira corrida na escuderia – mesmo tendo largado atrás do companheiro de equipe – e os benefícios que ele vier a receber estarão sempre ligados ao mérito que ele teve nos primeiros passos da campeonato.

Além de tudo: é LINDO!


Ah, e só pra terminar, Shumacher pode até ter terminado em 6º, mas definitivamente, não dá pra dizer que ele foi um mero coadjuvante nesta estréia. 

O filme do Oscar

Guerra ao Terror 
The Hurt Locker
EUA, 2009

Eu me lembro que, quando assisti Fomos Heróis (do Mel Gibson) fiz uma promessa solene: nunca mais assistiria a filmes de guerra. Mais pra frente me esqueci disso e comecei a assistir Falcão Negro em Perigo e, com uns 15 minutos de filme, me lembrei da promessa e de porque eu havia prometido: a vida já tem percalços demais e eu já sofro por um tanto de coisas. Não preciso sofrer também no momento de entretenimento que é ver um filme, né? Não, não gosto de filmes de guerra, obrigada.
 
E de repente, no ano que Avatar revoluciona o cinema, um filme de Guerra rouba a cena. E o Oscar. Essa foi a história de como eu quebrei a promessa e voltei a ver filmes de guerra.
 
O que me irrita neste gênero é sempre o excesso de parcialidade. Não falo só em ter um lado bonzinho (ou, os Estados unidos da América) e um lado malvado (Alemanha nazista, Vietnã, etc. e tal). Falo mais. Há uma parcialidade muito grande na formação do caráter dos personagens. Existem os bons e os maus. Os que lutam pela pátria, para proteger o lar de seu filho pequeno e de sua doce e loira esposa que ficou na América e os que lutam por ganância ou pela perversão de cometer as atrocidades que a guerra permite. Em Guerra ao Terror os personagens são redondos. Possuem bem, mal, orgulho, medo, preguiça e motivações que se misturam e se revezam em suas cabeças e seus corações. Isso faz deste um filme diferente. Pela primeira vez ele não é pretensamente humanizado. Ele é, realmente, humanizado.
 
O que mais me encantou foi a direção. Acho que foi maravilhosamente orquestrado. O roteiro eu achei um pouco maçante, achei que faltou um pouco de criatividade e super acho que mesmo um filme como Guerra ao Terror comporta criatividade estrutural. Também gosto muito da direção de arte, acho que ficou um filme visualmente muito interessante. É bonito e, mesmo mostrando um espaço que já foi completamente dominado pelo clichê – os campos de batalha – o filme consegue construir uma Bagdá em guerra que chega quase a ser surpreendente.
 
Gostei. Não consegui achar a última bolacha do pacote, mas é um bom filme de guerra, o que é complicado. E o que eu acho mais interessante é que Kathryn Bigelow toca na ferida dos EUA em um momento tenso, mas não podemos dizer que ela foi dominada por um #filmesbrasileirosfeelings e se colocou a escancarar opiniões que destroem a imagem do país (como os Cidade de Deus e os Central do Brasil da vida), mas por outro lado, ela não deixou de fazer sua crítica política e humanitária mostrando que dá para ser engajado sem ser panfletário. E acho que é aí que Guerra ao Terror brilha e com mérito.

Heróis Crowenianos

 Jerry Maguire - A grande virada
Jerry Maguire
Eua, 1996

Mostrar ao um homem que a efemeridade do sucesso e transformá-lo, ás custas de muitas provações, em uma pessoa melhor é o trabalho de Cameron Crowe. Seja este homem um agente esportivo, um astro d rock, um filhinho de papai ou um design vaidoso (?) e workaholic, ele vai aprender sobre aquilo que devemos valorizar na vida e por uma razão em especial: por ser sólido. Nos filmes de Cameron Crowe, sucesso, fama, reconhecimento e até a realização de certos sonhos nada mais são que alegrias frágeis, passiveis de serem rompidas a qualquer momento. Ao passo que é no encontro com si mesmo e com o outro (e estamos falando aqui de amor, de respeito, de união tanto consigo mesmo quanto com aqueles que o cercam) que se estabelece a felicidade que é duradoura, eterna e, por isso, realmente importante.
 
Jerry Maguire se encontra consigo mesmo, ele se conhece e se reconhece e é nisso que constitui a “grande virada” mencionada pelo (famigerado) subtítulo da versão brasileira. Ele vai se tornar um novo homem quando se depara com a nova vida que passa a ter diante de si, quando todos os seus sonhos se desmoronarem, ele vai conseguir, das cinzas, construir uma nova e diferente vida. O roteiro é maravilhosamente redondo, a história, de uma fofura sem igual. Gosto do Tom Cruise. Acho que ele é bom para interpretar esses tipos de sucesso que freqüentam o inferno antes da grade virada.
 
Bom, em Jerry Maguire falta aquilo que mais me encanta nos filmes de Crown: a trilha sonora deixa muito a desejar. Neste filme, a música não é mais um personagem (como acontece em Quase Famosos, Vanilla Sky e Elizabethtown), e chega a passar batida. Uma pena. Mas há um compensação bastante que satisfatória que é...
O Ray! A melhor criança da história do cinema!
 
Definitivamente, eu amo o Cameron Crowe!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Na Natureza Humana

Na Natureza Selvagem
Into the Wild
Eua, 2007

Na Natureza Selvagem é muito mais que um filme, é uma experiência sensível. Um filme que vai interagir com quem assiste capturando os olhos, os ouvidos e, justamente no somatório disso tudo, o coração.
 
A história do jovem Christopher McCandless tinha tudo para ser chata. Grosso modo, fala da aventura de um jovem de classe média alta que rompe com a família e com a vida que tem para correr mundo em busca de liberdade. Seu objetivo passa a ser o auto-conhecimento e ele resolve então partir para a maior experiência de sua vida: uma existência totalmente solitária e isolada no Alasca. Em momento algum ele se assemelha a um rebelde sem causa ou a um insatisfeito crônico. Ele é tão coerente e tão independente do mundo na sua busca que em momento algum ele se passa por mais um garoto rebelde.
 
Mas contar esta história poderia ter sido uma tarefa chata, muito chata. Não foi. A fragmentação do roteiro e a narração da irmã de Christopher vão dar ao filme um ritmo muito bom. Além disso, é embalado por uma trilha sonora sensacional e por paisagens de uma beleza extremamente melancólica, assim como a voz do Eddie Vedder. Casamento perfeito. Na Natureza Selvagem é um filme que conduz e conduz para dentro. Daí ele se tornar tão especial para tanta gente. É o filme de alma, ou antes, de tudo o que é jovem e essencialmente nobre e bom em uma alma humana.
 
***Spoiler***
Duas coisas que eu queria dizer sobre a história ou as duas lições que eu tirei dela:
1.    O destino de Christopher mostra que todo mundo que leva a vida a ferro e fogo acaba morrendo sozinho e de uma morte suficientemente lenta para que dê tempo de se pensar em todas as concessões não feitas e em toda a flexibilidade não praticada. Concordo demais. Mas não estou com saúde para pensar se trata-se de uma morte feliz ou infeliz.
2.    O último pensamento de Christopher: tratar as coisas pelo seu verdadeiro nome, é uma lição que a gente deveria aprender assim que sai da barriga da mãe. Tratar as coisas por seu nome, mesmo que esse nome pareça exótico, inadequado, precipitado, - trate as coisas pelo verdadeiro nome delas! Nada de apelidos ou pseudônimos! Coragem para aceitar o que elas são e arcar com conseqüências, que é, inclusive, outro mensagem bem forte neste filme.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Gênio Principiante

A revoada: o enterro do Diabo
Gabriel García Márquez, 1955

Como eu digo, amo o Gabriel García Márquez porque ele escrever melhor que o Saramago. Volta e meia tenho para mim que ele escreve melhor que todo mundo do mundo.
 
A Revoada é um ótimo livro, mas prova que nem o gênio nasceu maduro. Mas por outro lado, a Revoada vai deixar muito claro o que será o trabalho do autor dali para frente. Ainda meio sem consistência, o texto transita naquele espaço entre a prosa e a poesia e, como será sempre dali para frente, o conteúdo é coadjuvante onde a forma protagoniza.
 
A história se passa em Mocondo, onde a família Buendía viveria seus cem anos de solidão, e narra a tarde em que o Doutor, figura mais odiada do vilarejo, se mata. Ficamos com o que se passa na cabeça do Coronel, que anos atrás acolheu o morto em sua casa e que o manteve até que ele engravidasse sua filha adotiva. Também temos o que pensa a filha legítima do coronel que não se lembra do tempo que aquele homem conviveu em sua casa, mas que se lembra da irmã adotiva e do que ela se tornou depois de viver com aquele homem que agora morreu. Além do neto do cronel, garoto que nunca tinha visto um morto antes.
 
Um livro bonito, de construções mentais – que te convida a construir personagens a partir daquilo que recordam deles – e que tem toda aquela poesia.
 
É estranho ler A Revoada depois de ter lido mais Gabriel García Márquez. Mas é legal perceber que a consistência, que é a característica mais brilhante do autor (que é etéreo e consistente ao mesmo tempo) vai surgindo com o tempo.

Pearl Jam (COLUNA) A melhor banda de todos os tempos da última semana


Essa coluna vem para falar das minhas modinhas musicais. Funciono assim com música. Modinhas. Vez ou outra eu invento de gostar de alguma coisa e aí fico ouvindo só aquilo te enjoar e trocar de modinha.
 
Então. Vamos à modinha atual: Pearl Jam.
 
Se eu gosto de Pearl Jam? Então... Complicado. Gosto de Last Kiss, assim, a resposta deveria ser não, não gosto de Pearl Jam. Porque é o que diz a lenda: gostar de Last Kiss significa que não gosta da banda. Mas receio que eu goste.
 
Não há nenhum CD que me agrade por inteiro. Não coloco nenhum e ouço inteiro. Acho o Ten o melhor, mas ainda assim ele tem músicas que não me agradam. Por outro lado, pegando toda a discografia da banda, devo tirar umas 30 músicas. Mas aí, essas 30 músicas eu AMO! Mas amo muito mesmo. Alive, Better Man e Daughter são as novas músicas da vida. E tem também Man of the hour e a própria Last Kiss, além da tradicional Black que são ótimas. E Bugs, uma música muito exótica. 

Então, neste momento da minha vida, eu digo que SIM! Gosto de Pearl Jam. Especialmente da voz do Eddie Vedder, que é muito bonita e triste. Vamos ver até quando dura minha vibe grunge

Para os fortes, mas pra os fracos também

Onde os fracos não tem vez
No Country for Old Men
Eua, 2007

Alguém tinha me falado um coisa relevante sobre o filme antes de eu ver. Não lembrava de jeito nenhum o que era. Baixei e beleza, bora ver o filme que ganhou o Oscar.

Eu não tenho muito o que dizer sobre este filme. Eu curti, curti bastante até. Assim, eu nunca tinha visto nada dos irmãos Cohen. O filme tem um ritmo bastante próprio. Tem a lentidão de um faroeste, tem sangue como um filme de gangster e tem o Javier Bardem. Definitivamente ele não é um homem que me apetece. Sei lá, ele mais me inibe que qualquer outra coisa. Concordo muito com essa coisa de ele ser testosterona pura não. Mas neste filme ele faz um dos personagens mais interessantes que eu vi nos últimos tempos. O filme requer algum estômago e é muito exótico, mas é legal.

Vamos à história: um assassino muito frio e muito estranho caçando um sujeito que, por um (in)feliz acaso, encontra uma fortuna que pertence ao matador que está disposta a tudo para reaver sua fortuna. Enquanto isso, tudo que o xerife interpretado pelo Tommy Lee Jones quer prender o assassino antes que mais gente morra.

O roteiro não te dá todas as informações que existe, é o que eu sinto. Parece que contam uma história como se nós, que vamos ouvi-la, conhecêssemos uma série de fatos que a gente não conhece. A atmosfera em torno é bem estranha. Mas eu achei bem legal.

Aí, quando o filme terminou, eu lembrei o que foi que me disseram antes de eu assistir.  Tem a ver com o final. Não vou contar, nem com spoiller, porque é legal assistir com essa expectativa maluca.