O Cheiro de Deus
Roberto Drummond, 2001
Quando eu fiquei completamente viciada em O Tempo e o Vento, costumava dizer que se eu fosse gaúcha, seria eternamente grata ao Érico Veríssimo por ter colocado no papel de uma maneira tão linda a história da minha terra. Sou eternamente grata ao Roberto Drummond por ele ter contado, em o Cheiro de Deus, a história da cidade que eu mais amo nesta vida. Acho que Belo Horizonte é quase personagem no livro. Adoro quando personagens como Catula, Tio Johnnie Walker ou Tio Red Label freqüentam o Viaduto Santa Teresa, o Edifício Acaiaca ou a Rua do Ouro.
O Cheiro de Deus conta a história do ramo da Família Drummond que se estabeleceu na região do Contestado, na fronteira de Minas com o Espírito Santo. A família, de origem escocesa, tem no sangue a volúpia do incesto que faz com seus membros acabem sempre loucos. Vó Inácia, matriarca da família casada com seu tio Vô Old Parr, depois de se tornar Baronesa do Café no Contestado , vai viver em um castelo, em Belo horizonte, depois de velha e cega, onde fica concentrada em sentir o cheiro de Deus antes que seu adversário político (que sempre foi apaixonado por ela) e arquiinimigo Coronel Bim Bim, fosse lhe arrancar a cabeça como paga pela rivalidade de toda uma vida.
Não é uma história que se resuma. Porque é a história de muitos personagens, todos muito particulares e maravilhosos. Aqui, o fio que divide fantasia de realidade é vacilante e personagens como Catula, estudam no Colégio Santo Antônio e na UFMG, mas quando vem uma frente fria vinda da Argentina, a moça que era branca, de olhos verdes e cabelos fulvos, se transforma em uma negra. Ou Tio Johnnie Walkerque é explorador de pedras preciosas mas que tem muito medo de ser o Lobisomem que fala latim, come rosas vermelhas e atira cravos na janela de Catula na Lua Cheia. Ou ainda personagens como Emily ou a Moça Fantasma da Rua do Ouro, que são fantasmas, ou Cara de Anjo ou Satã, indivíduo sem passado e de grande beleza, mas que não se sabe se é o capeta ou um anjo. As loucuras de Tia Rose, as fantasias de Tia Viridiana, o sentimento de culpa de Tio Red Label (meu personagem preferido e que rende os trechos de maior beleza do livro), a sensualidade morena das quase mágicas 5 Irmãs, a valentia de Gioconda, a sabedoria da Anã Clô... Personagens maravilhosos vivendo uma epopéia de fantasia e sonho.
Em Cheiro de Deus, tudo o que é Amor é desejo e todo desejo é sempre o desejo do amor. É um livro de febre e doçura, de magia e de encantamento. Perfeito.
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