"não sou um intelectual, escrevo com o corpo."
Clarice Lispector

sábado, 16 de janeiro de 2010

Dentro de Nós!


 Onde Vivem os Monstros
Where the Wild Things Are
EUA, 2009

Aviso: Vai ser um post escrito de uma forma muito passional. Recomendo que seja lido por quem já viu o filme ou por quem não liga de ler coisas que podem conter spolier. Avisei no começo.

Desde que eu era fanática por Senhor dos Anéis eu não ficava tão ansiosa por uma estréia. Mas desde que eu vi o trailer (estava eu vendo Up, eu acho) eu fiquei completamente encantada. Era tudo. Era a carinha doce do menininho, era o non sense daqueles bichões muito loucos que lembravam História sem Fim, era a musiquinha e, claro, como qualquer um que falou em Onde Vivem os Monstros por aí, aquela frase final “Dentro de nós está/ Tudo que você já viu/ Tudo que você já fez/ Todos que você já amou”. A vontade de saber do que é que isso tudo tratava me deixou frenética até ontem, 17h10min, sala 04 do meu velho companheiro de Aventuras, o BH Shopping
.

Se eu tiver que contar sobre o que o filme fala, é muito fácil. Tristeza. É a história da tristeza e de tudo o que ela faz com as pessoas tristes. Max, nosso pequeno Rei e herói é um menino triste que tem um privilégio que seria a maior dádiva que cada um de nós poderia receber: olhar de frente suas próprias tristezas, como se elas fossem exteriores a ele. E são esses os monstros gigantes, devoradores e muito loucos que o garoto vai governar.

Filmicamente falando eu achei bem bom. A trilha sonora dispensa comentários (está toda disponível no Youtube e os links foram postados no twitter pelo @pclooping) e funciona como uma moldura perfeita e harmônica. A interpretação do pequeno Max Records está ótima. Ele consegue ser meio autista, meio mimado, meio chato e tudo isso sendo completamente fofo. Gosto dele quando ele sofre, gosto dele quando ele apronta, gosto dele quando ele está feliz e faz a gente se sentir feliz junto. Também gostei muito do visual do filme. A fotografia é muito interessante e a tosquice dos bichões refrescou um pouco os olhos tão acostumados com a computação gráfica e combinou com a idéia de singela imaginação que aquilo tudo devia representar. E quando acabou, levei um susto. Não parecia que o tempo tinha passado. Fiquei lá sentada até os créditos chegarem ao fim. Não queria que acabasse...

A história... A sutileza de tudo é o grande charme. Você precisa sentir o que os personagens falam (geralmente num tom bem bobo) para tudo fazer sentido. Meu estado natural, de equilíbrio, aquele para o qual eu tendo, é a tristeza. Acho que o filme fala no ouvido de quem é assim. E mostra o risco da necessidade de um Rei para ser feliz. Quando Carol pergunta se Max poderá protegê-los da tristeza, eu, lá na minha cadeira, senti que uma coisa muito especial estava acontecendo ali. E Max aceita o desafio de fazer a tristeza feliz. E só com o tempo vamos descobrindo que ele não foi o primeiro e que, o fim de todos os outros reis era ser devorado pelos monstros. Tal qual a gente faz com os Reis a quem confiamos todas as fichas das nossas felicidades. “Você vai falar bem de nós quando partir?”, é a preocupação de um dos monstros quando chega a hora de Max ir, e foi impossível não pensar em todos os reis que já tive, como e por que os devorei e o que deles sobrou comigo.

Max volta pra casa. Abraça a mãe com quem tinha brigado e naquela troca de olhares do final (lindo!) a gente fica na torcida para que Max tenha conseguido dominar seu Carol e tenha aprendido que a felicidade não precisa de nenhum soberano e pode ser tanto mais feliz quanto livre.


2 comentários:

Fábio Megale disse...

Irônico: eu iria na mesma sessão que você, mas por causa da chuva eu acabei ficando preso e assisti a seguinte. Será porque era pra vc assistir sem amiguinhos por perto? rs.

O filme é perfeito. Confesso que quando ele acabou, fiquei com uma enorme sensação de que faltava algo. Mas com o tempo as peças começaram a se encaixar e percebi que era o objetivo dele deixar essa sensação. Comecei a ligar uma coisa com a outra, a lembrar de detalhes que não tinha reparado, a discutir com outras pessoas alguns pontos e filosofias, a compreender tudo... apesar de que ainda existe muito a ser compreendido e que muito jamais será. Não vou entrar em méritos de fotografia, dos monstros nem da fabulosa trilha, pra não me prolongar demais por aqui. No fim, a cada segundo que passa gosto mais e mais do filme e com certeza muito em breve estarei indo assistir novamente. É fato que com o tempo, se é que já não aconteceu, este filme vai se acomodar no meu top3.

E, ah, você vai gostar: http://www.terribleyelloweyes.com/

Beijo!

PC disse...

estava procurando essa sua crítica a algum tempo, havia esquecido do Ovo, hehe. mas enfim... Já vi o filme duas vezes e na segunda vez foi mais surpreedente ainda, pq ele não cansou ou pareceu repetitivo. A sua complexidade eh tal que permite que ele seja visto e revisto várias vezes antes de enjoar...

enfim, só estava curioso mesmo por ler esta crítica...