"não sou um intelectual, escrevo com o corpo."
Clarice Lispector

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Na história deste país


 Lula, o filho do Brasil
Brasil, 2010

Eu gosto muito de cinema. De ir ao cinema, da sala de cinema. Gosto da experiência de consumir o produto coletivamente. E acho que esse consumo coletivo, as reações, o público que está lá sentado, etc, diz muito de um filme.  15h50min no BH Shopping e uma sala muito vazia, apesar de um cinema lotado. Nas poltronas ocupadas, muitos cabelos brancos. Cenário parecido com o de Dois Filhos de Francisco. Minha expectativa era de um filme parecido. Posso dizer que errei.

Se a idéia era mostrar o nosso presidente como ser humano, filho, pai, irmão, marido, o filme falha. Se era mostrar o Luiz Inácio Lula da Silva e sua notória carreira política (notória sim. Foi presidente sem ter sido outra coisa e num partido que ele próprio fundou. Sem entrar nos méritos do governo atual, a carreira do nosso presidente é sim, digna de nota) o filme falha também. Não é uma coisa nem outra. E eu não sei direito o que é.

Não comparo muito ao filme do Breno Silveira, acho que Dois Filhos de Francisco, apesar da trilha sonora infinitamente pior, foi um filme muito mais caprichado. Lula é um filme estranho, Um pouco mole demais no começo, um pouco sem propósito. Depois ganha ritmo, e aí acaba. Glória Pires está divina e eu acho um dos charmes de tudo o ator que interpreta Lula ser tão fraco.

Por mais que eu tente, não dá pra comentar o filme sem entrar nos méritos políticos que a história de um presidente com mandato em exercício suscita. Se tivesse que definir o filme em uma palavra, seria desperdício. Acho que é uma história muito boa para ter sido contada da maneira que foi. Primeiro, o selo da Globo Filmes. Acho que a Globo protagonizou um dos momentos mais importantes da carreira do presidente e da vida do Luiz Inácio. Mas como o filme termina em 1979, dez anos antes daquele fatídico debate, a história foi varrida pra debaixo do sofá e ponto. O momento Lula candidato, os comícios eletrizantes (Lula lá! Brilha uma estrela...) e mesmo a fundação do PT foram deixados de fora. E não há a contrapartida de ter mostrado a vida do homem por trás do político, porque não mostrou. Para piorar, inventaram um vilão, o que não deu certo. Usar a ditadura militar como pano de fundo para falar da vida do Lula foi forçar muito a barra. Ele é um personagem da redemocratização, não da ditadura. A passagem pelo Dops é importante, claro, mas achei super explorado.

É um filme bacaninha. Encardido, e isso me incomodou um pouco (ainda usando Dois Filhos de Francisco como referência, ele mostrou pobreza, mas não foi encardido), mas com alguns bons momentos. Amparados por uma história boa, só mal recortada.

Mas ainda assim eu achei que valeu o ingresso. Talvez pelo fato de eu concordar muito com o Lula ali representado. Sempre o vi como aquele que organizou a luta sindical, e isso fica bastante claro. Acho que a história merecia mais, mas acredito que deu para não sair de lá com ódios no coração.

Comentários:
1.    Trailler de um filme chamado “Segurança Nacional”, filme brasileiro de ação, com um presidente (negro!) que profere a seguinte frase: “O Brasil não negocia com terroristas”. Oi?
2.    Alguém me explica porque o trailler de Sherlock Holmes que passa em Lula, o filho do Brasil, é dublado?
3.    Se alguém quiser saber minha posição política quando o assunto é Lula, aí vai: Eu fui uma grande entusiasta do presidente na campanha de 2002, eu chorei muito quando ele não ganhou em 1º turno, chorei de emoção quando ele ganhou 2º, assisti a cerimônia de posse e a diplomação com uma felicidade muito maior que a jogos de copa. Paixão. Paixão passou, claro. Mas minha relação com o governo é o de um casamento de 17 anos. Chamo de traste, reclamo da barriga de chopp, ma na hora de dormir, sorrateiramente, deslizo o pé debaixo da coberta, pra encostar no dele.

3 comentários:

André Heneine disse...

Crítica sensacional, Paty!

Divido todas as opiniões com você, inclusive sobre a "paixão" de 2002.

Realmente o filme não soube contar uma boa história.

Lucas Amaral disse...

ai, gacta, q tristeza o filme nao ter sido mais ishplorado, mais propagandistico! afinal, se é pra falar do lulinha, que falem direito!

Jessica disse...

Acho que o fato de ser dublado não tem muito a ver com o filme não, vi um trailer dublado quando fui assistir a Bastardos Inglórios... deve ser tendência...