"não sou um intelectual, escrevo com o corpo."
Clarice Lispector

quinta-feira, 11 de março de 2010

Gênio Principiante

A revoada: o enterro do Diabo
Gabriel García Márquez, 1955

Como eu digo, amo o Gabriel García Márquez porque ele escrever melhor que o Saramago. Volta e meia tenho para mim que ele escreve melhor que todo mundo do mundo.
 
A Revoada é um ótimo livro, mas prova que nem o gênio nasceu maduro. Mas por outro lado, a Revoada vai deixar muito claro o que será o trabalho do autor dali para frente. Ainda meio sem consistência, o texto transita naquele espaço entre a prosa e a poesia e, como será sempre dali para frente, o conteúdo é coadjuvante onde a forma protagoniza.
 
A história se passa em Mocondo, onde a família Buendía viveria seus cem anos de solidão, e narra a tarde em que o Doutor, figura mais odiada do vilarejo, se mata. Ficamos com o que se passa na cabeça do Coronel, que anos atrás acolheu o morto em sua casa e que o manteve até que ele engravidasse sua filha adotiva. Também temos o que pensa a filha legítima do coronel que não se lembra do tempo que aquele homem conviveu em sua casa, mas que se lembra da irmã adotiva e do que ela se tornou depois de viver com aquele homem que agora morreu. Além do neto do cronel, garoto que nunca tinha visto um morto antes.
 
Um livro bonito, de construções mentais – que te convida a construir personagens a partir daquilo que recordam deles – e que tem toda aquela poesia.
 
É estranho ler A Revoada depois de ter lido mais Gabriel García Márquez. Mas é legal perceber que a consistência, que é a característica mais brilhante do autor (que é etéreo e consistente ao mesmo tempo) vai surgindo com o tempo.

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